segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Artigo: "Temporada de greves"






Tem muita gente em greve. Todos com razão. Ninguém faz greve por amor a criar problemas para os outros, ainda que alguns mereçam. As greves surgem, como se diz no jargão das lutas, de necessidades imperiosas. Veja-se o caso da greve dos bancários. É mais do que justa. Só alguém muito reacionário pode condenar a greve dos bancários.
Os ganhos dos bancos no Brasil são indecentes, obscenos, pornográficos. Banco é o melhor negócio do mundo. Todo mundo precisa ter uma conta bancária. Tudo passa pelos bancos. Os serviços são os mesmos em todos eles.
Os bancos privados adoram se gabar das suas qualidades e fazer de conta que são mais ágeis, eficazes e modernos do que os públicos. É balela. Os caixas eletrônicos do Banco do Brasil são melhores, com interfaces mais amigáveis do que os de todos os bancos privados brasileiros. Banco do Brasil dá mais do que chuchu na cerca. Tem em toda esquina. Só dá o amarelão.
Banco no Brasil ganha muito e paga pouco. Os bancários pedem 5% de aumento real. Os patrões oferecem 0,56%. Por que tanto? Será que não vai faltar para esses pobres banqueiros pressionados por bancários sedentos de dinheiro? Que latinha a desses leitões que passam a vida mamando deitados!
O lucro dos bancos cresceu 20,11% no primeiro semestre deste ano, um avanço de R$ 4,3 bilhões em relação ao mesmo período de 2010. É mole? Pois eles não querem dividir o bolo.
A vida de banqueiro é dura. Tem de sustentar mansões, coleções de arte, intermináveis viagens luxuosas, familiares ociosos, serviçais de todo tipo, fusões estratosféricas, patrocínios a obras culturais que não decolam e ainda viver sob a terrível tensão das altas frequentes e das raras baixas da taxa Selic. Dá pena. Um sufoco. Um pesadelo. Coitados. Um inferno na Terra. Deve ser por isso que eles são aliviados de certos impostos. Ou não sobreviveriam.
Em 2011, o Itaú já faturou R$ 7,1 bilhões, e o Santander, R$ 4,1 bilhões. Realmente fica difícil, com lucros tão modestos, pensar em transferir uma fatia do bolinho para os empregados.
Os impiedosos bancários, além de tudo, querem aumento no vale-refeição. Esse pessoal só pensa em comer. Será que esses banqueiros não sabiam de tudo isso quando escolheram essa atividade insana? Se estão insatisfeitos com tantas reclamações e greves, como parece, por que não mudam de profissão? Será que ficam só por causa desses míseros bilhões faturados no mole a cada ano?
É quase impossível ver uma greve injusta. A dos Correios, por exemplo, tem toda razão de ser. As manifestações de brigadianos, no Rio Grande do Sul, exprimem reivindicações justíssimas. Se os professores da rede estadual entrarem em greve, em busca do pagamento do piso fixado por lei nacional, estarão cobertos de razão.
Só tem um jeito de evitar os problemas criados por tantas greves: pagar melhor. Sabe-se que é muito difícil para um banqueiro separar-se do seu rico dinheirinho obtido com tanto sacrifício pessoal, mas não tem jeito, terão de cumprir essa meta. Com esforço e treinamento, eles conseguirão. É só uma questão de empenho e missão.
Fonte: * Juremir Machado da Silva é escritor e professor e escreve para o jornal Correio do Povo (RS)
Criado por: Marcos Paulo e Postado em: 3/10/2011 11:16:03

domingo, 2 de outubro de 2011

Corvos e urubus... Por Emir Sader

Repararam que tem gente, que se diz de esquerda, mas que só aparece para criticar a gente de esquerda? Nunca contra a direita, o que quer que esta faça. São especialistas em jogar álcool em qualquer foguinho dentro da esquerda.

Nunca reconhecem vitórias, conquistas, avanços. São apenas prenúncios de derrotas, traições, retornos da direita – cuja culpa será sempre denunciada como responsabilidade da esquerda. Adoram as derrotas, quanto maior, melhor, porque a culpa é dos outros, não importa que o povo seja quem pague o preco.

São ótimos para fazer balanços de derrotas, mas nunca sabem propor alternativas e nunca conseguem dirigir processo algum. São sempre críticos. Espécies de urubus, especialistas em carniças. Corvos, que auguram sempre catástrofes.

Não dá para ter respeito por alguém que se diz de esquerda, mas não está em todas as paradas da luta contra a direita. Aí ficam quietos, espreitando para atacar a esquerda, seja porque não é suficientemente radical, seja porque não derrotou de forma radical e definitiva a direita. Eles mesmos, não são capazes de afetar o poder da direita, nem estão centralmente preocupados com isso, lhes importa sobretudo as “traições” da esquerda.

Numa circunstância grave como a da Bolívia atualmente, por exemplo, colocam para fora o rancor com Evo Morales e sua liderança, como antes tiveram essa atitude contra Lula no Brasil. Todos “traíram”, incluídos Hugo Chaves, Rafael Correa, Pepe Mujica, os Kirchner, Fernando Lugo, Mauricio Funes, só eles são puros. Só que o povo não acha isso, de forma que essa gente nunca consegue formar movimentos populares com forte participação do povo, não dirigem nenhum processo, não conseguem citar um caso em que suas ideias levaram a vitórias e a avanços.

Não elogiam a reforma agrária, a nacionalização das minas, a Assembleia Constituinte postas em prática por Evo. Não apoiam as medidas de política externa soberana do Brasil, no reconhecimento da Palestina, na mediação do Irã, no apoio a Cuba. Só denúncias, porque seu universo não é a luta geral do povo, mas o universo restrito da esquerda. Não fazem luta de massas, só luta ideológica. Não constroem força política para que a esquerda avance, sempre tratam de dividir.

Os conflitos na esquerda, no campo popular, tem que ser discutidos e tratados como conflitos entre tendências de esquerda, mais moderadas ou mais radicais, sem desqualificações que caracterizem os outros como fora do campo da esquerda. Esta atitude é o primeiro passo que leva a assimilar outras tendências da esquerda à direita e assumir equidistância em relação a elas.

Numa situação de crise como a da Bolívia atualmente, tudo o que podemos desejar é que se chegue a um acordo político entre o governo e setores do movimento indígena que estão em enfrentamento aberto. Nem o governo é de direita, nem os movimentos indígenas fazem o jogo da direita. É nesse marco que devemos almejar que sejam enfrentados os conflitos.

Como no Brasil, deve-se criticar o governo e o PT no que se diverge, e apoiar nos pontos comuns. Fazer frente única no que há de comum, a começar na luta contra a direita. E criticar naquilo em que ha divergências. Considerando que são diferenças no campo da esquerda e não é possível equidistância entre o governo e a oposição, o PT e a direita.
Postado por Emir Sader às 14:37