quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Como explicar o racismo para uma criança.



O assunto do post de hoje é uma ida à concessionária da BMW Autokraft, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, dia 12 de janeiro, que deixou um casal chocado e uma criança triste. Ronald Munk e Priscilla Celeste são pais de cinco filhos e foram à loja acompanhados do caçula, de 7 anos, que é negro e adotado, em busca de um automóvel novo para família. Enquanto conversavam com o gerente de vendas sobre os carros, a criança se aproximou dos três. "Ele (o gerente) disse: 'Você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja. Eles pedem dinheiro e incomodam os clientes'", contou Priscilla, dizendo que o gerente não havia se dado conta de que o menino era filho do casal.
"Imediatamente peguei meu filho pela mão e saí da loja. Somos clientes da concessionária há anos. Inclusive temos um vendedor que sempre nos atende. Esperamos dias por uma retratação, não tomamos nenhuma atitude imediata e não acionamos a polícia para preservar nosso filho", acrescentou Priscilla. Ronald, que é consultor, disse que o filho chegou a questionar por que não aceitavam crianças naquela loja já que havia uma televisão passando desenhos animados. O que dizer pra essa criança? Como explicar que, por ele ser negro, o gerente imaginou que ele era um pedinte? Como ensinar pra uma criança de 7 anos que a cor da pele dela define, pra muita gente, o que ele é? Como explicar o que é preconceito?
Ronald e Priscilla aguardaram quatro dias por uma retratação da concessionária. Eles não queriam acionar a Justiça, mas também não pretendiam deixar que esse fato acontecesse novamente e com outras pessoas. Decidiram, então, enviar um e-mail para a BMW Brasil relatando o ocorrido. A reposta veio do gerente regional de vendas. No e-mail, a empresa lamenta o ocorrido, pede desculpas e enfatiza que o compromisso da BMW é prestar atendimento com excelência.
Oi? Como é que é? O compromisso é esse, ou seja, isso deveria acontecer, mas não aconteceu! O que a empresa vai fazer então? Os pais exigiram essa resposta. Como a empresa agirira para que esse fato não acontecesse nunca mais? A resposta que receberam foi ainda pior, mais vazia. Uma semana depois do incidente eles receberam um email no qual a empresa se dizia ciente do ocorrido e afirmava que o gerente da loja "entendeu que o casal não estava acompanhado por qualquer pessoa, incluindo a criança. E já que ela estava absolutamente desacompanhada na loja, o funcionário teria alertado o garoto que ele não poderia ali permanecer e que tudo não passou de um mal-entendido". O correio é finalizado com a seguinte mensagem: "Tenho imenso prazer em tê-lo sempre como cliente amigo".
Que tristeza, além de todo o ocorrido, a empresa não vai nem punir o funcionário preconceituoso. Em outras palavras, acham que não aconteceu nada demais e colocaram uma pedra em cima do assunto. Na cabeça dos pais, o assunto não termina aqui, ao contrário. Aos sete anos o menininho já começou a perceber que alguma coisa está errada. Será que é por ele ser criança? - se questionam. Minha solidariedade a essas pais que, desde cedo, terão que apresentar esse mundo preconceituoso e cheio de maldade a um ser tão inocente.