Jovens estudantes neo-conservadores fogem ao estereotipo de arruaceiros mas defendem ação violenta das gangues
Eles não são fortões, não lutam artes marciais, não usam tatuagens com
suásticas e preferem os livros e computadores às facas e socos ingleses. Em vez
de estações de metrô e shows de punk rock, seu habitat natural são as quitinetes
apertadas do Crusp ou os vastos gramados da USP (Universidade de São Paulo).
Eles são os neoconservadores, jovens universitários que defendem valores como o
direito à propriedade e a fidelidade matrimonial.
À primeira vista, parecem mais universitários comuns, magricelas, com suas
calças largas, camisetas amarrotadas e a barba por fazer. Mas apesar de estarem
longe do estereotipo do jovem arruaceiro, cerraram fileiras ao lado de skinheads
musculosos nas marchas em defesa do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e na
anti-Marcha da Maconha.
“Estamos aqui para batalhar tanto intelectualmente quanto fisicamente”,
apregoa Celso Zanaro, 22 anos, estudante de Geografia da USP. “O que precisamos
é de homens dispostos a morrer por seus valores”, completou.
Folheto faz propaganda da UCC na USP |
Zanaro é um dos quatro integrantes do núcleo duro da União Conservadora
Cristã (UCC), organização criada em julho do ano passado nos corredores da USP
com os objetivos declarados de defender valores como o casamento, a fidelidade
conjugal, direito à propriedade e combater o predomínio do pensamento marxista
no meio acadêmico e político.
Pouco mais de um ano depois da criação, a UCC conta com 16 membros, 14 da USP
e dois da Unicamp. Parece pouco mas nas eleições para o diretório central da
USP, os neoconservadores ficaram em 5º lugar entre as dez chapas
concorrentes.
“Na época da campanha fomos procurados pela juventude do PSDB mas não dá para
fazer aliança aqui dentro”, disse Zanaro.
Em mais de duas horas de conversa, entre um cigarro e outro, o estudante
citou pelo menos 15 autores conservadores, muitos deles nunca traduzidos para o
português. Mas as principais referências do grupo são o jornalista Olavo de
Carvalho (que defende a pena de morte para os comunistas), o integralismo
(versão brasileira do nazismo) de Plínio Salgado e o ultra-conservadorismo de
Plínio Correia de Oliveira, fundador da extinta TFP (Sociedade Brasileira de
Defesa da Tradição, Família e Propriedade).
Sobre a ditadura militar, Zanaro diz: “Se negarmos com veemência a ditadura
não estaremos fazendo nada a mais do que reforçar o discurso comunista. A
ditadura foi necessária num contexto”.
Na verdade, ele lamenta a falta de pulso do comando atual das Forças Armadas
por não intervir no governo Luiz Inácio Lula da Silva durante o escândalo do
mensalão.
“A função das Forças Armadas é respaldar as instituições democráticas. O
Legislativo é uma delas. A partir do momento em que existiu um esquema para
comprar o Legislativo e as Forças Armadas não depuseram o presidente, elas não
cumpriram seu papel”.
Para os jovens da UCC, a USP é um antro comunista, nenhum partido político é
suficientemente conservador, a pedofilia na Igreja é fruto da infiltração de
agentes da KGB, o sexo é uma forma de idiotização da juventude, Geraldo Alckmin
colocou uma mordaça gay na sociedade paulista, Fernando Henrique Cardoso foi o
criador de Lula e Lula é o próprio anticristo.
Embora tenha resistido à abordagem da juventude tucana, a UCC votou em massa
em José Serra nas eleições presidenciais do ano passado, mas com ressalvas.
“Serra é um sujeito que, embora tenha se aliado a setores conservadores e
renegado uma postura mais virulenta de esquerda, não abandonou totalmente estes
ideais”, justificou.
Os integrantes da UCC dizem ser contra qualquer tipo de violência mas não
escondem a admiração pelos skinheads, aliados de ocasião. “Essa postura de
combate me inspira muito. Uma inteligência que não está disposta ao combate é
uma inteligência vazia”, disse Zanaro que, no entanto, faz questão de demarcar o
território. “Eles se dizem de extrema-direita mas o líder deles é
vegetariano”.
A aproximação tem base na argumentação ideológica dos neoconservadores,
segundo a qual é necessária uma elite intelectual que sirva de referência para a
massa. “Uma massa conservadora sem uma elite é uma massa de manobra. Não existe
educação para as massas. Precisamos de uma alta cultura que sirva de referência
para estas massas”, disse Zanaro.
Apesar da aproximação com grupos que, no limite, praticam a intolerância
contra minorias, o líder da UCC esclarece que o movimento não tem ligações como
nazismo. “Não somos neonazistas. Ao contrário. Defendemos o estado de
Israel”.
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