quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Curso do PSDB tira lições do PT e ensina candidatos a se aproximar do povo
"Nós ficamos muito elitizados. Perdemos a dona
Maria. Temos dificuldade para chegar no povo". O comentário do presidente
estadual do PSDB de São Paulo, deputado Pedro Tobias, é ouvido com atenção pelos
participantes de um curso de formação política do PSDB, na capital paulista. Na
plateia, candidatos às eleições de 2012, dirigentes partidários e militantes
balançam a cabeça em sinal de concordância. "Somos órfãos do meio sindical. Lá,
somos vistos como inimigos. Precisamos nos aproximar", diz Tobias. E como
diminuir a distância em relação ao eleitorado? O dirigente sugere: "Tem que
falar do mutirão de catarata, de próstata. Isso interessa a ela [dona
Maria]".
Reunidos na noite de segunda-feira no diretório
paulista, um grupo de 30 tucanos debate os rumos do PSDB e as eleições de 2012.
O líder da bancada na Câmara, deputado Duarte Nogueira, fala sobre "a maior
dificuldade" dos tucanos: a comunicação. "Nós somos péssimos", comenta. Nogueira
cita uma pesquisa recente do partido sobre a percepção do eleitorado. Dos
entrevistados, 40% ligaram o PSDB à Lei de Responsabilidade Fiscal, bandeira do
partido. "Mas outros 40% acham que foi o PT que fez a lei", diz. "Não é tarefa
fácil, mas temos de fazer uma ação de convencimento. Vamos arregaçar as mangas e
agir como animadores".
Aos tucanos, Nogueira lembra do ex-presidente
Lula como um "grande animador". "Ele é dez vezes melhor que o Silvio Santos,
fala o que as pessoas querem ouvir. Lula tem um patrimônio que é enorme. Não
adianta bater em ferro frio. É preciso ter humildade", afirma. O deputado diz
que poucas pessoas sabem o que é a social-democracia e cita dados da pesquisa:
70% dos entrevistados sabem que PT é Partido dos Trabalhadores, mas só 20% sabem
o que significa PSDB. "Mas se falar o que é social-democracia, 50% se
identificam. Temos que fazer um ajuste fino na comunicação".
Nogueira, que é cotado para disputar a
Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), dá uma dica. "Quando fizer eventos, não
esqueçam de chamar a liderança local, a enfermeira, o cobrador de ônibus, o
líder comunitário. Às vezes eles têm a ensinar muito mais do que a gente acha.
Tem que ter humildade, falar a língua do povo e fazer com que o PSDB não atraia
só os intelectualizados", diz. Pedro Tobias interrompe: "Tem que atrair a dona
Maria!"
Na sequência de Nogueira, o presidente da seção
paulista do Instituto Teotônio Vilela, deputado Mendes Thame, explica o motivo
da reunião daquela noite: divulgar o curso de formação política do PSDB que vai
preparar os tucanos para 2012. A formação será obrigatória a todos que
disputarem as eleições, inclusive para cargos de direção na sigla. Entre os
temas estão a ética na política, a proposta social-democrata e o que é a forma
tucana de governar.
Thame logo compara o curso dos tucanos às
palestras de formação política dos petistas. "O PT, no começo, tinha um bom
curso de formação. Eles ficavam uma semana no [instituto] Cajamar e depois
azucrinavam a cabeça da gente com coisas corretas, como o Orçamento
Participativo", comenta. Thame diz que o PSDB não tem condição de fazer uma
espécie de "faculdade" para os militantes, mas defende a formação
política.
Na plateia, homens na faixa dos 50 anos enchem
a sala do diretório tucano. Apenas uma mulher acompanha a reunião, mas vai
embora antes do fim do encontro.
Um dos responsáveis pelo curso de formação dos
tucanos, o prefeito de Campo Limpo Paulista, Armando Hashimoto, retomou a
discussão sobre a dificuldade de comunicação do partido. "Existe uma dissintonia
entre o que a gente pensa e qual é a necessidade [do povo]", diz. "O PSDB, o DEM
e o PSD têm o mesmo vício de origem porque são partidos que não vieram da
militância. Vieram do cacique para a militância. Militância de verdade não tem.
Vai em Ribeirão Preto e pergunta quem é militante do [governador Geraldo]
Alckmin? Você não acha. Tem militante da liderança local, mas é completamente
diferente do PT". O prefeito explica: "Eles [os petistas] têm cara de pau de
defender o mensalão. Nós tivemos a obscenidade de esconder FHC [Fernando
Henrique Cardoso] na campanha eleitoral, de não defender a privatização".
Na palestra, Hashimoto é o responsável por
analisar a relação dos candidatos do PSDB com os meios eletrônicos. Ao
discursar, o tucano reclama do embate gerado dentro do PSDB sobre a propaganda
do partido na televisão. "Todo mundo que quer aparecer não é candidato agora, em
2012, mas sim em 2014. Quem vai ser candidato não aparece. É diferente dos
partidos pequenos, que usam o programa de televisão para apresentar os
candidatos municipais", diz, sem citar nomes. Em setembro, o senador Aloysio
Nunes Ferreira reclamou que a sigla teria excluído ele e o ex-governador José
Serra do programa.
Aos militantes, o prefeito compara o discurso
do partido com o do PT. "Temos boa vontade, boas ideias, mas não temos o poder
de adesão que tem o PT. Não temos a facilidade de ler as pessoas".
O grupo assiste a um vídeo de Fernando Henrique
Cardoso. O ex-presidente reforça que o partido tem de estar "muito junto do
eleitorado". Aos tucanos, FHC recomenda: "Fale diretamente o que pensa. Não
precisa de muito slogan. Fale com espontaneidade."
Durante o encontro, tucanos demonstraram
preocupação com outro tema, além da comunicação: a divisão do partido entre os
grupos do governador paulista Geraldo Alckmin e do ex-governador José Serra. Em
um rápido debate, um militante relatou que estava aflito com a "dicotomia no
PSDB". "O Serra é mais próximo do Kassab do que é do Alckmin? O PSDB é do
Alckmin ou do Serra? A gente sente essa divisão, nos perguntam o que está
acontecendo, mas a gente não sabe responder. Precisamos de uma posição firme do
partido", diz. "Nem os deputados sabem o que está acontecendo", comenta outro
militante.
O líder da bancada, ao discursar, prega a união
partidária e diz que não se pode "ciscar para fora". "Temos nossas diferenças
internas como qualquer partido, mas é na somatória do pensamento de todos que
converge a nossa força. Não adianta ciscar para fora. A galinha quando quer
alimentar o pintinho cisca para dentro. Temos que superar as diferenças", diz
Nogueira.Por Cristiane Agostine do Valor
Nenhum comentário:
Postar um comentário