Na noite de quarta-feira (17), o Jornal Nacional começou personalizando as três vítimas fatais do suposto ataque terrorista em Boston, nos Estados Unidos. Deu-lhes nome, história e rostos. A reportagem de cerca de seis minutos gastou mais tempo do que levaria para relatar apenas os fatos.
Lá pelo fim do telejornal, em trinta e sete segundos
o âncora Willian Bonner recitou a seguinte nota sobre quase o triplo de
mortes que ocorreram no atentado em solo norte-americano:
—–
“O líder de um partido de oposição da Venezuela afirmou
que o governo já tem mandados de prisão contra ele e o candidato
derrotado à presidência, Henrique Capriles. Leopoldo López divulgou na
internet a suposta ordem de prisão por incitar atos de violência.
O presidente eleito, Nicolás Maduro, não se manifestou. E
responsabilizou Capriles pelas oito mortes nos protestos de
segunda-feira, depois do resultado da votação.
O Supremo Tribunal de Justiça anunciou nesta quarta-feira
(17) que a recontagem manual de votos pedida pela oposição é impossível
por causa do sistema eleitoral automatizado”
—–
Nenhum professor de jornalismo, em nenhuma faculdade da face da
Terra, diria que o Jornal Nacional apresentou uma reportagem. Tratou-se,
mais do que tudo, de uma prova pronta e acabada de parcialidade e de
verdadeira vigarice que tentou enganar o espectador e ocultar fatos.
Evidentemente que é mentira que o governo venezuelano
tenha mandado de prisão contra Henrique Capriles, apesar de que já
chegam a 161 os processos sendo abertos contra 90 pessoas que mataram,
depredaram e incendiaram pelas ruas da Venezuela na última
segunda-feira.
Mas o que chama mesmo atenção é que os oito mortos venezuelanos não mereceram o mesmo tratamento que os três norte-americanos.
O Jornal Nacional e o resto da “grande” imprensa televisiva,
radiofônica e escrita não podem falar muito dos mortos por uma só razão:
além de nomes, rostos e parentes chorosos, eles têm posição política –
eram todos simpatizantes do governo Maduro e alguns deles tombaram por
tentarem impedir o vandalismo dos seguidores ensandecidos de Capriles.
Eis a lista daqueles que as hordas caprilistas assassinaram:
José Luís Ponce Ordoñez – 45 anos, carpinteiro, militante do PSUV, morto com tiro na cabeça
Rosiris del Valle Reyes Rangel – 44 anos, militante do PSUV, morta com tiro nas costas
Ender José Bastardo – 21 anos, militante do PSUV, morto com quatro tiros.
Henry Rangel La Rosa – 32 anos, militante do PSUV, morto a tiros por encapuzados na porta de casa
Johan Antonio Hernández Acosta – Menor de idade, militante do PSUV, morto por caminhão que arremeteu contra multidão que comemorava a vitória de Maduro.
Luis Eduardo García Polanco – 25 anos, militante do
PSUV, morto com um tiro no rosto enquanto comemorava a vitória de Maduro
em frente à sede do Conselho Nacional Eleitoral no Estado Zulia.
Rey David Sánchez – Menor de idade, militante do PSUV, morto por caminhão que arremeteu contra multidão que comemorava a vitória de Maduro.
Cliver Enrique Guzmán – Ministério Público da Venezuela só divulgou que era militante do PSUV e que foi assassinado em uma manifestação.
A linha do Jornal Nacional de tratar como “prisões políticas” as
prisões de 161 pessoas – entre as quais estão os assassinos das pessoas
nomeadas acima e outras que depredaram sedes de programas sociais como
postos de saúde e mercados populares, bem como tudo que levasse o
logotipo do governo – foi seguida por todos os grandes jornais e
telejornais.
Entretanto, essa linha é muito frágil. Depende, sobretudo, de
despersonalizar as vítimas e de esconder as imagens da depredação.
Enfim, de censurar tudo que está correndo o mundo.
Até nos Estados Unidos redes de televisão e jornais estão dando conta
do que ocorreu na Venezuela na segunda-feira. Na Europa e por toda a
América Latina, os fatos estão sendo expostos. A cobertura no Brasil é
uma exceção mundial.
Todavia, as vítimas fatais, as centenas de feridos e os próprios
públicos depredados ou incendiados não irão desaparecer. Pelo contrário,
o caso só vai se tornar mais notório. Assim, a grande mídia brasileira
está tentando preparar o terreno para qualificar o terror caprilista
como invenção do governo venezuelano para esconder uma “fraude
eleitoral”.
A tal “grande mídia”, porém, conta com a covardia da banda esquerda
do espectro político brasileiro. Acredita que nenhuma figura pública de
peso irá se indignar e denunciar a ocultação de fatos que o mundo
inteiro conhece e que, no Brasil, estão sendo censurados.
A veiculação dos fatos pela internet pode atingir um contingente
importante de formadores de opinião, mas, claro, ainda irá demorar meses
para as ondas digitais chegarem a um contingente maior de pessoas, isso
se a blogosfera não desistir de romper o cerco censor.
A “grande mídia” brasileira vem tratando assim a responsabilização
dos assassinos e vândalos ligados a Capriles também porque este deverá
ser processado como autor intelectual dos massacres. Apesar de ser
governador do Estado de Miranda.
Como romper o muro de censura que foi levantado no Brasil como em nenhuma outra parte do mundo?
Quantos entendem que se os democratas deste país aceitarem que uma
farsa dessa dimensão seja levada a cabo, a porta estará aberta, ano que
vem, para fraudes midiáticas muito maiores no âmbito da eleição
presidencial?
Alguma autoridade brasileira de peso ou alguma figura pública que não
puder ser ignorada precisa denunciar essa farsa. A censura imposta pela
Globo e seus tentáculos é uma das maiores ameaças à democracia que já
se viu neste país.
Não é possível que não exista alguma autoridade ou figura pública de
peso com coragem para desmascarar a “grande mídia”, ainda mais estando
ela tão vulnerável a qualquer resquício de verdade que burlar a censura
em curso.
Se ninguém criar coragem para denunciar essa vergonha, o Brasil irá
se equiparar às ditaduras mais atrasadas e fechadas do planeta, em
termos de censura. Que depois, então, ninguém reclame do resultado. A
injustiça que se faz a uns é a ameaça que se faz a todos.
*
Assista, abaixo, ao vídeo da denúncia do ministro das comunicações venezuelano em coletiva de imprensa na última quarta-feira.
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