Por Paulo Salvador
A diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região-CUT submeteu o PSTU/Conlutas a duas fragorosas derrotas nos dois últimos meses. A primeira foi na assembléia de formação da Comissão Eleitoral, onde essa agremiação obteve menos de 30 votos de um público presente de 1.500 bancários, conferindo um recorde histórico à assembléia, pela participação da base e na diferença nos resultados. Mais recentemente, outra derrota nas eleições da Apcef-SP, a Associação dos Profissionais da Caixa Econômica Federal, onde venceu a chapa apoiada pela diretoria do Sindicato.
Agora, no processo eleitoral do Sindicato dos Bancários, o PSTU/Conlutas escala de seus quadros dois professores universitários – Álvaro Bianchi (Unicamp) e Ruy Braga (USP) – para atacarem os bancários com o mesmo discurso derrota, e mais uma vez dão asas à piada que cerca essa agremiação, de que é um "relógio parado".
O artigo dos professores requenta idéias apresentada pelo sociólogo Chico de Oliveira, em entrevista de encomenda à Folha de S. Paulo, em 2003. O veterano Chico, os novos professores e a Folha usam táticas semelhantes: cobram pela esquerda e produzem movimento pela direita, num discurso travestido de esquerda. Naquele ano, escrevemos a resposta "Os novos cursos do velho Chico", que a Folha não publicou. Manifestamos nossa profunda indignação contra aquele ataque e perguntávamos onde e quando nos governos anteriores Chico de Oliveira havia questionado a usurpação do dinheiro da aposentadoria dos trabalhadores pelos fundos de investimentos, bancos e pelo próprio governo FHC. E a serviço de quem estaria tanta fúria contra a participação ativa dos trabalhadores na gestão dos institutos. Por último, questionávamos qual a proposta que teria para a gestão dos fundos? Hoje, o texto dos professores revela a permanência daquele manifesto.
O velho Chico e os novos professores tentam associar os dirigentes indicados ou eleitos dos fundos de previdência complementar (e de saúde suplementar, o que não é citado no texto, talvez por absoluto desconhecimento por parte dos autores), como sendo de uma "nova classe", uma expressão também copiada de muitos textos clássicos de política do último século. Em resumo, para eles, participar dos institutos onde os trabalhadores põem dinheiro do seu salário é um pecado mortal - e a conotação dessa expressão é a mesma usada pelas igrejas.
Ora, a redemocratização do país no início dos anos 80 fez despontar uma geração de sindicalistas que corretamente ousaram disputar com os patrões e com os banqueiros a gestão do seu próprio dinheiro, sejam eles das fundações ou vinculados às autarquias e órgãos do governo federal. Não foram apenas os movimentos de massa que reivindicavam democracia que sacudiram as velhas idéias da ditadura, foram novas idéias de cidadania e participação no processo de gestão que fez escola para centenas de novos dirigentes. O que se deduz do texto dos professores é que os trabalhadores devem entregar seu capital ao controle dos banqueiros. Aliás, repetem o que dizem os próprios banqueiros e patrões quando tentam impedir eleições de representantes dos trabalhadores nos fundos. Um breve histórico sobre a evolução dos fundos de pensão e saúde suplementar revela que a gestão dos trabalhadores traz mais resultados e benefícios para os trabalhadores e impedem gestões fraudulentas. O discurso dos acadêmicos serve como uma luva para os tucanos que ainda controlam setores do Banco do Brasil, por exemplo.
Esta resposta só é necessária em respeito aos bancários de base e ao conjunto dos dirigentes sindicais que sofrem diariamente pressões dos banqueiros e mesmo assim dedicam suas vidas para construir um novo Brasil. Destaque-se também a agressão boba e gratuita que os articulistas fazem contra várias personalidades do movimento bancário e cutista. Chegaram ao absurdo de condenar um ex-dirigente da Previ por se aposentar por que adquiriu seu tempo por contribuição. São também incapazes de compreender que o governo Lula e Dilma, como proclama a CUT, são governos de disputa e que os trabalhadores devem participar ativamente dos processos decisórios para fazer avançar suas conquistas.
O conjunto do movimento sindical bancário saberá ignorar essas provocações e dará continuidade a uma política envolvente de gestão em todas as frentes, ampliando a organização dos bancários, pressionando os banqueiros e ampliando suas conquistas junto ao governo federal, que é uma política que produz mais benefícios e mais conquistas, todos merecidos pela classe trabalhadora.
Paulo Salvador
(Bancário do Santander, dirigente executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, presidente da Afubesp (Associação dos Funcionários do Santander Banespa, Cabesp e Banesprev). Eleito pelos trabalhadores como diretor e conselheiro da Cabesp e do Banesprev - caixa de assistência à saúde e fundo de previdência do Banespa)
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