quinta-feira, 7 de julho de 2011

Literatura ...BVB " A Biblioteca Varonil Bolsonaro."



A literatura não vai bem. Assim pensa Jair Bolsonaro, político fluminense, humanista de fôlego e intelectual influente nas rodas mais liberais da dissidência radical de extrema direita. “A sem-vergonhice vem de muito tempo”, ponderou o deputado, ao lado de seu fuzil de estimação. “Já nas peças de Sófocles a gente vê filho dando em cima de mãe, irmã desrespeitando a Lei e a Ordem e uma conversa mole de democracia que soa a socialismo. E por todos os lados, uma multidão de mestiços lúbricos desencaminhando a soldadesca. Eu decidi agir.” Depois de assumir, com sucesso, a redação dos novos kits escolares contra a homofobia, nos quais ensina a caridade e a tolerância – “casais homossexuais só devem ser discriminados quando os noivos forem do mesmo sexo” –, Bolsonaro lança-se agora numa ambiciosa empreitada editorial: reduzir a literatura universal a quinze títulos (“o mesmo número de balas da minha Glock”), os quais formarão a “A Biblioteca Varonil Bolsonaro”. Os volumes serão reescritos por renomados eruditos de modo a corrigir pequenas distorções do texto original. Adotando os melhores princípios do rigor acadêmico, da moralidade cristã e da moderna teoria eugênica, na BVB todos os homens serão brancos, todas as mulheres serão castas e Preta Gil será invariavelmente presa. The piauí Herald adianta os primeiros lançamentos.

A MoreninhaPor Paulo César Peréio

Na edição revista, Augusto não resiste aos avanços libidinosos de Carolina, a Moreninha do título, e morre de exaustão. “O livro é bom, mas faltou ao Joaquim Manoel de Macedo ser macho para dizer o que saltava aos olhos da sociedade do seu tempo, ou seja, que essas moreninhas são todas umas pitonisas do sexo.” Baseado nas evidências do romance, Bolsonaro pediu a prisão de Preta Gil.




Casa Grande & DependênciasPor Carlos Alberto Brilhante Ustra

“Senzala é um termo típico de intelectualzinho de esquerda, daqueles bem afetadinhos que chamam revolução militar de golpe”, observa Bolsonaro, em erudita nota introdutória à nova edição renomeada do clássico de Gilberto Freyre. “Dizem que Freyre era de direita, mas é óbvio que o homem tinha mais inclinação pela esquerda do que esse Chico Buarque. A historiografia mostra que as senzalas eram espaçosas e arejadas, com palha de boa qualidade no chão.” Bolsonaro destaca a importância dos capítulos que tratam do conúbio carnal entre brancos e negros. O livro se tornou peça-chave da ação criminal contra Preta Gil.



Lançamentos futuros

Guerra e Paz
Por Mike Tyson

Na versão encomendada a Tyson, as 900 páginas do clássico russo são reduzidas a 200. “Só interessa a parte da guerra. Paz é coisa de maconheiro”, explica o deputado, que publicará o livro com o título de Guerra e Mais Guerra. A edição oferecerá possibilidades de merchandising para anunciantes da indústria bélica. “‘Imaginem se o Príncipe Andrei souber que estive em poder dos [aviões Mirage, submarinos nucleares classe Scorpène, helicópteros Cougar] franceses!’, exclamou a princesa Maria Nikolayevna Bolkonski. “Que eu, a filha do Príncipe Nicolau Bolkonski, pedi ao General Rameau que me protegesse [com uma pistola Sig-Sauer P220 com corpo de polímero] e que aceitei o seu favor!’”

No coração das trevas
Por Nuno Leal Maia

Jair Bolsonaro aproveita apenas o título do clássico de Joseph Conrad. O livro inaugura a coleção de coffee table books assinada pela mãe do deputado, dona Jeruza Bolsonaro. Luxuoso e fartamente ilustrado, este primeiro volume é um convite para que o leitor viaje pelas soluções criativas de decoração que Preta Gil encontrou para suas residências.











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