publicado em 19 de junho de 2013 às 11:07
por Lincoln Secco e Antonio David, especial para o Viomundo
Em célebre imagem do Manifesto Comunista Karl Marx
mostra um feiticeiro que perdeu o controle dos poderes subterrâneos que
ele mesmo despertou. As manifestações de segunda-feira foram o ponto de
virada do Movimento Passe Livre.
Quando o movimento se massificou, isto não aconteceu sob a
bandeira do MPL, mas depois de uma convocação de parte da grande
imprensa. Sendo assim, as justas demandas iniciais se juntaram a
manifestações de direita. O que explica a metamorfose?
Em primeiro lugar, lembremos que este movimento atual é seguramente
importante e de massas, mas muito menor do que outros passados. Basta
pensar nas Diretas Já que colocavam milhões nas ruas numa era sem redes
sociais. Mais fraco e sem uma direção tradicional, ele tem que aprender
no calor da luta a recuar para avançar depois.
O segundo aspecto do momento atual reside no fato de que antes as
pessoas comuns iam às ruas depois de ouvirem o chamado que passava pela
palavra impressa e esta dependia de organizações previamente
estabelecidas que podiam arcar com custos de edição de revistas,
jornais etc. As redes sociais permitem que indivíduos falem diretamente
entre si sem a mediação de organizações, salvo o mercado virtual.
Pessoas assim podem partir para a ação e expor ingenuamente os seus
preconceitos e sua “coragem” (sic) escondida no anonimato da rede.
O terceiro aspecto que merece consideração é que a grande imprensa
televisionada continua muito importante e, ao mesmo tempo, totalmente
fora de controle democrático. Na Venezuela, Chavez enfrentou
manifestações e tentativas de golpe reduzindo o papel da televisão.
Organizações na forma de “rede” existem desde que Marx criou seu
círculo de correspondência londrina ou antes. Decerto os meios atuais
potencializam infinitamente uma teia assim. O que o MPL pode aprender
com seu magnífico movimento inicial é que organizações horizontais não
deixam de ter pessoas provisoriamente na liderança. Mas os líderes
devem obedecer às bases e podem ser trocados. E as bases não são as
pessoas nas ruas simplesmente, mas aquelas que comprovam real
participação nas tarefas decididas. O MPL tem sim o direito de vetar
atos que os seus membros orgânicos não decidiram previamente.
Para os partidos está dado o recado: está havendo um ensaio de algo
diferente que poderá suscitar organizações de tipo novo à direita e à
esquerda, assim como existem partidos verticais de direita e de
esquerda. A juventude deve invocar o tumulto. É seu direito. É seu
dever. Depois, estudar, estudar e estudar. Só assim se aprende. Primeiro
nas ruas, depois se reorganizando. Não tenham medo. Continuem na luta.
Mas saibam mudar a tática e desarmar o adversário. Ele tem nome: os
fascistas que o discurso de direita disfarçado de combate à corrupção
despejou nas ruas.
É possível que passeatas atrás de carros de som e líderes rotativos
do próprio MPL no comando sejam a solução imediata que sindicatos mais à
esquerda podem emprestar ao movimento, pois as atuais manifestações
carecem deste elemento básico: o direcionamento conferido por quem fala
mais alto.
Mas a saída estratégica passa por São Paulo e pela prefeitura. O MPL
não quer e nem poderia influenciar o quadro eleitoral que ainda está
distante. Mas precisa de uma saída digna para eliminar a gordura
indesejada do movimento. A saída é o prefeito quem deve oferecer:
baixar a tarifa e abrir um diálogo permanente sobre mudanças estruturais
nos transportes.
Lincoln Secco é Professor de História Contemporânea na USP; Antonio David é Pós Graduando em Filosofia na USP
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